domingo, 15 de março de 2009

UM

Por Madalena S.


Era de noite e choviam astros.
Um dilúvio de luz em fragmentos, desabando do universo sobre o quintal das traseiras, queimando as ervas aromáticas e reduzindo a cinzas as abóboras meninas que viçavam a contragosto à beira do morangal vermelho escuro.
Ainda tentaste apanhar dois pedaços da Nebulosa da Águia que caíram aos pés do limoeiro e um estilhaço de uma supernova vinda de parte incerta, mas o brilho sofisticado e absurdo queimou-te as pontas dos dedos e voltaste para trás.
Sentámo-nos no alpendre, enrolados na manta de retalhos costurada pela avó Maria, e ficámos ali a assistir ao nascimento do mundo.

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