sexta-feira, 29 de maio de 2009

SETE

Por Madalena S.

A nossa casa não tem portas nem janelas.
É aberta
Às correntes de ar permanentes
Ao gelo de Janeiro
Ao fogo de Agosto
À vaidade do arquitecto que riscou as paredes-mestras
À perfeição do pedreiro que argamassou os tijolos
À arte do canteiro que cantou a chaminé em rochedo de granito

A nossa casa não tem portas nem janelas

Para que o ar límpido das manhãs de inverno possa atravessá-la
Sem intervalos.

A nossa casa é tão perfeita que induz a cobiça dos vizinhos.
Por causa disso mandei pintá-la de amarelo.

SEIS

Por Madalena S.

Lembras-te da sombra dos rododendros e do perfume gordo dos jasmins que nos asfixiavam os sentidos nas tardes amarelas de Agosto?
Sobre as águas paradas do lago quieto e escuro,
as louva-a-deus batendo as asas, frenéticas, enlouquecidas, enganando o desalento, pairavam assim.
As louva-a-deus batendo as asas, sobre as águas paradas do lago quieto e escuro.
E as rãs coaxavam roucas, arriscando abafar o canto grave das cigarras.
Ficávamos cegos.
Os olhos fechados, as mãos entrelaçadas, o pulso suspenso.
À nossa volta ouvia-se o silvo supremo do Universo.