domingo, 27 de junho de 2010

DOZE

Por Madalena S.

Inventei-te ontem à tarde, a tempo de te deitares comigo, como se a companhia me fizesse falta.
Não fazia.
Teria passado bem sem ti, sem o teu cheiro a charuto húmido, e os teus dedos amarelos de nicotina a fugir sobre as teclas do piano, correndo em direcção à cauda, porque é de lá que vem o melhor som.
Teria passado bem sem o teu amargo de boca, mastigado sobre o sabor acre do rum velho que te queima a goela magra e te escorre pelo canto dos lábios, num lastimável fio de abandono.
Teria passado bem sem as tuas recordações de Havana velha, do cadillac de estofos vermelhos e das rameiras escuras a rabearem as garupas no Tropicana.
Teria passado bem sem ti e sem a revolução, sem os tiros e as barricadas.
Mas, nesse caso, quem me cantaria a Internacional?

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