quinta-feira, 10 de junho de 2010

DEZ

Por Madalena S.

Caminho pelas ruas da amargura.
Nas pedras da calçada – salve a alma portuguesa! - em esquiços de negro basalto, revejo a tristeza dos meus fados. Do meu fado.
Na dobra da rua, no sopé das escadinhas, mirando o elevador que sobe e desce em canseira arfante, o homem das castanhas atiça as brasas do seu fogareiro de barro e grita – Quentes e boas! – e eu cobiço os climas pardos do Outono e continuo a caminhar pelas ruas da amargura.
Não há tempo para lavar os olhos, fechados pelo pó dos dias.
Não há tempo para perfumar as mãos, ásperas de esfregar as paredes nuas da consciência.
Não há tempo para sentir.
Cresce a amargura nas ruas e eu caminho cada vez mais depressa.

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